Nutrição e Estilo de vida Pós COVID-19
24 de setembro de 2021 . por Roberta Lara (CRN-3: 2913)
A pandemia do novo coronavírus vem trazendo novas perspectivas e reforçando a importância de manter um organismo saudável, por meio da alimentação e do estilo de vida equilibrado. A nutrição integrada é essencial para manter o corpo fortalecido e as defesas corporais ajustadas em busca de combater diferentes vírus. Uma vasta literatura científica trouxe nos últimos meses resultados satisfatórios a respeito dos benefícios da reposição de alguns nutrientes para a imunidade, da prática de exercícios e da regulação do estresse como grandes atitudes que ajudam a amenizar o risco de complicações da Covid-19.
Sabe-se que a infecção pelo coronavírus afeta principalmente os pulmões e o sistema cardiorrespiratório, contudo, alguns relatos e pesquisas mostram o desenvolvimento de consequências em todo o organismo no pós-doença. Entre eles, é possível destacar alterações renais, queda progressiva de cabelo (chamada de alopecia pós-covid), perda de memória e mudanças cognitivas, além desequilíbrios na circulação vascular.
Ainda não se sabe ao certo a causa exata das sequelas da COVID-19, mas alguns pesquisadores associam a infecção que o corpo produz a uma grande liberação de substâncias inflamatórias, chamadas de citocinas, como forma de aumentar a ação do sistema imunológico para destruir e combater o vírus. Esses componentes podem se acumular em outros órgãos, desencadeando uma inflamação crônica responsável por tais alterações clínicas. O quadro se agrava, ainda mais, quando existe excesso de peso corporal, uma vez que a tempestade de citocinas pró-inflamatórias se triplicam com o aumento do tecido adiposo. Por isso, a obesidade é considerada fator de risco para complicações e sequelas da COVID-19. A genética de cada indivíduo é capaz de regular a intensidade dos sintomas e as sequelas na pós-infecção, tendo em vista cada particularidade e resposta fisiológica individual.
A nutrição como estratégia no pós-covid
Manter em casa a disponibilidade de boas fontes de nutrientes é a melhor forma de garantir qualidade e benefícios para a nova rotina. A recuperação das sequelas do coronavírus está associada a manejos alimentares para melhorar o sono diário, auxiliar na imunidade e evitar o ganho de peso.
Alguns estudos mostram o papel de determinados alimentos e suas propriedades nutricionais para amenizar a inflamação decorrente da infecção viral: as frutas ricas em um fitoativo chamado naringenina (mexerica e laranja) ajudam a reduzir as citocinas inflamatórias; o extrato de própolis verde em pessoas infectadas com coronavírus é capaz de reduzir em 50% o tempo de internação e diminuir os danos renais, segundo pesquisa; a vitamina D presente na gema de ovo, cogumelos e óleos de peixes possui um papel imunomodulador que auxilia nos aumentos das respostas de defesa e redução das complicações decorrentes do vírus; o brócolis e alimentos ricos em glucorafanina (fitoativo) podem ajudar a reduzir a resistência à insulina, dano endotelial, lesão pulmonar e tempestade de citocinas em casos clínicos de pacientes com a covid-19, segundo outro estudo.
O eixo pulmão-intestino e a influência na saúde respiratória
O papel da microbiota intestinal em influenciar doenças pulmonares também é bem articulado. A infecção pelo vírus respiratório provoca algumas alterações na microbiota e na imunidade. Sendo assim, modular o intestino por meio de fibras e probióticos é essencial nos pacientes em recuperação da doença.
Suplementação de nutrientes-chave
A suplementação de micronutrientes pode complementar a ingestão de nutrientes-chaves e auxiliar no funcionamento do sistema imune. A integração de suplementos na rotina com vitamina D, selênio, zinco, vitamina E e ômega-3 é uma boa estratégia nutricional.
Em especial, os minerais e as vitaminas são parte de um grupo de nutrientes que auxiliam na ativação das respostas imunológicas e do combate das células de defesa do corpo. Chamados de cofatores celulares, algumas vitaminas, como a C, e minerais, como zinco e selênio, atuam diretamente no funcionamento do sistema imune.
O mecanismo de ação da vitamina D se dá pela sua interação com o sistema imunológico através de uma ação direta na regulação e a diferenciação de células imunes, como linfócitos, macrófagos e células natural killer (NK). Ela atua junto ao zinco e a vitamina C, também na redução da liberação de citocinas pró-inflamatórias, e aumento das com caráter anti-inflamatório. Já o zinco está associado nas vias de formação das células imunológicas, atuando nas fases de tradução, transporte e replicação do DNA celular.
A vitamina C, por sua vez, tem o papel essencial na proteção das células do organismo contra o estresse oxidativo provocado pelas infecções. Ela se acumula nas células fagocíticas, como os neutrófilos, otimizando o processo de fagocitose, geração de oxidantes e indução da morte microbiana.
Em toda infecção viral são produzidas em abundância as espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio, os conhecidos radicais livres. O selênio é um antioxidante que auxilia na proteção dos danos causados pelos radicais livres e, também, no funcionamento do sistema imune.
O sono e a eficiência imunológica
Por fim, destaca-se a importância do sono no equilíbrio fisiológico corporal e a prática de exercícios físicos como forma de melhorar a perfusão sanguínea dos nutrientes e manter a circulação e função cardiorrespiratória saudáveis.
Conclusão
Os pilares do estilo de vida devem ser considerados manejos ideais para melhorar a imunidade e reduzir a inflamação crônica, sendo estratégias profiláticas pelas quais o impacto do Covid-19 pode ser minimizado no pós-doença.
REFERÊNCIAS
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