Fome oculta: você presta atenção no que coloca em seu prato?
17 de maio de 2021 . por Vanderli Marchiori (CRN 3/3343)
De acordo com a FAO OMS, a deficiência de micronutrientes afeta mais de 2 bilhões de pessoas no mundo. Este quadro impacta diretamente no desenvolvimento cognitivo, no crescimento e no desenvolvimento físico e mental de uma criança, por exemplo. Mas, você sabe qual a definição de fome oculta e quais são as consequências? Neste conteúdo vamos trazer informações relevantes para te ajudar a entender mais sobre este quadro.
Qual é a definição de Fome Oculta?
A fome oculta é o nome dado ao quadro de consumo inadequado e insuficiente de alimentos cuja consequência é a deficiência de vitamina e minerais.
Qualquer indivíduo pode apresentar esse problema, mas acomete principalmente as crianças pois este público apresenta maior necessidade de micronutrientes para garantir o crescimento e o desenvolvimento físico e mental.
Quais as principais carências nutricionais?
Dentre os minerais que resultam em maior carência nutricional, podemos destacar, principalmente, o ferro, zinco, iodo, selênio, cálcio, magnésio e o fósforo.
No Brasil, o Ministério da Saúde decidiu, há algumas décadas, fortificar a farinha de trigo com ferro. Esta medida visava reduzir a deficiência de ferro na primeira infância principalmente, mas também garantir um consumo indireto deste mineral em alimentos consumidos diariamente por fazerem parte da cultura alimentar brasileira.
Segundo o Relatório sobre a Situação Mundial da Infância da UNICEF 2019, 1 em cada 5 crianças não estão crescendo saudavelmente. As crianças crescem, mas não prosperam. Este é um ciclo que deveria ser quebrado.
Quais são as consequências?
Frequentemente a fome oculta não mostra sinais ou sintomas, mas pode levar a alterações metabólicas que resultam em sequelas em médio prazo. As consequências podem iniciar com cansaço frequente e progredir para outras doenças, como complicações cardiovasculares e osteoporose, pois os nutrientes fazem parte da prevenção de muitas enfermidades.
A relação entre a pandemia e a fome oculta
A pandemia só trouxe esta realidade ainda mais intensa à tona. Famílias sem renda e sem emprego com sua alimentação baseada em doações ou em programas de auxílio governamentais.
Entendendo este cenário, geralmente os alimentos básicos e que apresentem um rendimento maior são os escolhidos atualmente pela maioria dos brasileiros e isso não inclui frutas, verduras e legumes em quantidades diária suficientes.
Se por um lado existe a desnutrição proteico calórica com impactos severos na população, a fome oculta é mascarada com a obesidade infantil e juvenil. O consumo de alimentos com baixa densidade nutricional e alta densidade calórica é cada vez maior, seja por acesso ou escolha. E mais uma vez a pandemia piora este quadro.
O acesso a aplicativos de entrega de alimentos prontos em geral leva, na maioria das vezes, a piores escolhas, isso porque as refeições mais saudáveis geralmente são mais caras e nem sempre disponíveis em todos os locais. Já sanduiches e alimentos rápidos, ricos em gordura e sal, estão sempre em oferta e com maior rapidez de entrega.
Cada vez que a escolha alimentar se baseia em alimentos com menos vitaminas e minerais e mais calorias advindas de gorduras e açúcares, maior será o crescimento dos números de sobrepeso, obesidade e também da fome oculta.
Como mudar este cenário?
O incentivo a educação nutricional considerando o consumo integral de todos os alimentos, incluindo as partes não convencionais, pode ser um bom caminho para que este cenário mude. Nesta fase de transição do cenário atual para o ideal pode-se considerar, quando possível, a complementação de vitaminas e minerais na forma de suplementos alimentares e/ou polivitamínicos, que apresentam nutrientes importantes.
Quando uma alimentação inadequada é complementada é possível reduzir o impacto da deficiência de vitaminas e minerais. Caso necessário, busque auxílio de um profissional de saúde habilitado para a realização de exames e uma escolha individualizada de nutrientes para suplementar.
Referências:
- Jaime, PC. Pandemia de COVID19: implicações para (in)segurança alimentar e nutricional. Ciênc. saúde coletiva, v.25, n.7, 2020.
- FAO, IFAD, UNICEF, WFP and WHO. 2018. The State of Food Security and Nutrition in the World 2018. Building climate resilience for food security and nutrition. Rome, FAO.
- Lozoff B, Beard J, Connor J, Felt B, Georgieff M, Shallert T. Long-lasting Neural and Beahavioral Effects of Iron Deficiency in Infancy. Nutrion Reviews 2006; 64 (5): S34- S91.
- Micronutrientes nos primeiros 6 anos de vida. São Paulo: ILSI Brasil – International Life Sciences Institute do Brasil, 2019. – (Série de publicações ILSI Brasil: força tarefa de nutrição da criança; v. 9).
- Gödecke T, Stein AJ, Qaim M. The global burden of chronic and hidden hunger: Trends and determinants. Global Food Securtiy 2018; 17: 21-29.