Benefícios do Boldo (Peumus boldus) e da Alcachofra (Cynara scolymus)
19 de agosto de 2021 . por Thalyta Karin de Souza (CRN-10/8301)
As plantas medicinais são utilizadas há muito tempo, principalmente para a promoção e recuperação da saúde. Após as propriedades terapêuticas das plantas serem reconhecidas, assim como sua eficácia, adquiriram grande importância nos estudos científicos1. No Brasil, existem algumas plantas que são utilizadas em ampla escala pela população para sintomas ou doenças atribuídas ao fígado, como as folhas de alcachofra e boldo2.
Com a grande procura da população tem sido lançados exemplos de inovação para o consumo das plantas, visto que algumas não possuem sabores tão atraentes, outras formas de apresentação aparecem no mercado3 como forma de entregar os mesmos benefícios e atender o desejo dos consumidores de incrementar a qualidade da dieta de forma mais segura, como é o caso de comprimidos, cápsulas e drágeas.
Diante dessa inovação para o consumo de plantas3, são definidos pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) como medicamentos derivados a partir de vegetais ou plantas consideradas medicinais, os fitoterápicos passam pelos mesmos controles e também estudos clínicos que outros medicamentos tradicionais, defendendo sua eficácia e segurança para o uso e também reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde).
ALCACHOFRA (Cynara scolymus)
Fazendo parte do amplo portfólio de plantas medicinais, a alcachofra (Cynara scolymus) tem sido citada desde o século 4 a.C como alimento e medicamento. Essa planta foi trazida para o Brasil através dos imigrantes europeus e seu cultivo é feito mundialmente devido ao fim medicinal e alimentício, além da sua utilização na indústria. Essa planta pode atingir até 1,50m de altura, com folhas grandes, tendo como princípio ativo a Cinarina4.
A alcachofra é reconhecida devido a sua finalidade terapêutica desde os antigos egípcios, gregos e romanos, aliás, neste último grupo foi apreciada devido ao seu efeito benéfico para a digestão, e atualmente apresenta propriedades bem descritas na literatura científica5.
Muitos indivíduos possuem queixas de desconforto na parte superior do abdômen, com gases, azia e náuseas, comum relato de indigestão resultantes da deficiência na produção da bile. Portanto, a atividade gastrointestinal da alcachofra a partir do seu extrato se deve a ação antidispéptica (de modo a evitar a indigestão), aliviando o quadro de desconforto abdominal, principalmente após o consumo de alimentos gordurosos e seu efeito digestivo aparece, em média, em 30 minutos. Essa ação é mediada através da atividade colerética, que estimula a produção da bile pelo fígado, armazenada na vesícula biliar e lançada no tubo digestivo quando o indivíduo eventualmente come alimentos gordurosos, a bile atua como emulsificante dos lipídeos, fragmentando as grandes moléculas de gorduras e facilitando assim a maior eficácia na digestão de gorduras5.
De acordo com estudiosos, é possível verificar também efeitos muito benéficos em relação a redução do colesterol, visto que a mesma age na digestão de gorduras, evitando possíveis patologias relacionadas5, como hipercolesterolemia (elevação patológica da taxa de colesterol no sangue).
O uso da alcachofra como um protetor do fígado também é muito conhecido, esse benefício terapêutico se deve a ação protetora e regeneradora das células hepáticas, ou seja, dos hepatócitos encontrados no fígado, obtida através dos flavonóides e gialcooliterpênicos que estimulam a síntese enzimática básica do metabolismo hepático4.
BOLDO (Peumus boldus)
Outra planta que se destaca é o boldo-do-chile (Peumus boldus), que também é alvo de grandes estudos científicos que comprovam a sua eficácia utilizada na medicina popular. Afinal, quem nunca experimentou um chá de boldo? O chá de boldo é uma apresentação clássica, sendo largamente consumido no Brasil, onde já são desenvolvidas outras formas para apreciar os seus benefícios terapêuticos.
O boldo-do-chile é uma árvore que atinge em torno de 12 a 15 metros de altura e pertence à família das Monimiaceae. As propriedades fitoterápicas de suas folhas eram conhecidas das comunidades indígenas sul-americanas que habitavam os Andes chilenos, tornando-se conhecidas mundialmente a partir da colonização européia da América.
Em um estudo realizado, o boldo apareceu no ranking dos três primeiros mais consumidos pelos participantes e o uso das plantas medicinais para a saúde digestiva disparou em primeiro lugar, indicando que é um mercado com potencial crescimento8.
Encontra-se presente no boldo a boldina, alcaloide majoritário que auxilia o fígado a trabalhar melhor e possui atividades farmacológicas comprovadas, dentre elas, é possível destacar o efeito colagogo, que estimula a secreção da bile pela vesícula biliar para o duodeno e também efeito colerético, que estimula a produção da bile pelo fígado, auxiliando a digerir alimentos gorduroso. Outra ação identificada é o efeito antiespasmódico, que reduz as contrações leves da musculatura intestinal. Além de exercer efeito protetor sobre as células hepáticas, o que justifica a sua grande utilização para o tratamento de doenças relacionadas a digestão, inclusive cólicas intestinais9,10,11.
Alguns estudos apontam o boldo, ainda, como possível tratamento de cálculos biliares, cistite e também atuação como diurético, pois o boldo possui compostos que podem aumentar a produção da urina. Foi identificado melhora da azia e até auxilia na recuperação do mal estar após a ingestão de bebidas alcóolicas6. Há estudos que confirmam a ação anti-inflamatória do boldo, resultados estes obtidos através de um processo inflamatório agudo12.
Atualmente, existem diferentes formas de consumir o boldo dentro da fitoterapia e obter os seus benefícios. O consumo tradicional sob a formas de chás ou infusões ainda é comum, porém, caso não queira que o odor ou o gosto seja identificado, a apresentação do boldo na forma de extrato seco pode ser encontrada em formas farmacêuticas sólidas como as drágeas. Para aqueles que apreciam o sabor da planta, o extrato fluidificado pode ser encontrado em soluções orais, em embalagens grandes ou mesmo em flaconetes, que trazem praticidade e segurança para a tomada da dose.
Portanto, o boldo e a Alcachofra apresentam propriedades coleréticas e colagogas muito bem descritas na literatura que auxiliam na digestão. O tempo médio do início da ação, quando ingerido ambos em forma de medicamento fitoterápico, é de 15 a 30 minutos após a ingestão.
REFERÊNCIAS
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- Rosa, H. Natural medicine: what is the efficacy and safety in liver diseases? GED gastroenterol. endosc.dig. v.30, n.1, p.19-22, 2011.
- ABIA – Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas. Chás: uma das categorias de bebidas que mais cresce a cada ano. 2020.
- Iberoquímica. Alcachofra Extrato Seco. Atividade Hiperlipidêmica, Hipocolesterêmica e Colerética. 2017.
- Botsaris, AS. Alves, LF. Cynara Scolymus L (Alcachofra). Estado da Arte/State of the Art. Revista Fitos. vol.3, n.2, 2007.
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- Ghizi, A. Mezzomo, TR. Uso de Plantas Medicinais e Satisfação de Consumidores de Lojas de Produtos Naturais do Mercado Municipal de Curitiba, PR.
- Ruiz, ALTG. Taffarello, D. Souza, VHS. Carvalho, JE. Farmacologia e Toxicologia de Peumus boldus e Baccharis genistelloides. Revista Brasileira de Farmacognosia. V. 18, n.2, p.295-300, 2008.
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- Lanhers, MC. Joyeux, M. Soulimani, R. Fleuretin, J. Sayag, M. Mortier, F. Younus, C. Pelt, JM. Efeitos hepatoprotetores e anti-inflamatórios de uma planta medicinal tradicional do Chile, Peumus boldus. Georg Thieme Verlag Estugarda · Nova Iorque. V.57, n.2, p.110-115, 1991.